Por Tárcio Araujo
Finalmente após 38 anos de manutenção do mesmo sistema político, o povo de Lajes decidiu mudar. A eleição do jovem Felipe Menezes (28) do PP, no último dia 15 de Novembro pôs fim a hegemonia que prevaleceu na política do município entre os anos 80, 90 e 2000. O resultado da campanha eleitoral de 2020 marca a virada no curso da história política local e encerra uma trajetória pensada para dominar por cinco décadas, como revelou o ex-prefeito Edivan Lopes, precussor do sistema em 1982. Em conversa reservada para um amigo ele disse; “Prevíamos permanecer 50 anos no comando”. Faltou combinar com o povo !
A dobradinha
Benes/Edivan se perpetuou numa alternância de poder que durou 34 anos
consecutivos, com o complemento do mandato do atual prefeito José Marques
Fernandes, o Marcão, também nascido nas hostis do Benismo/Edivanismo. Foram quase 40 anos sob o julgo de um único
grupo político e dois personagens.
O jovem Felipe Menezes escreve seu nome na
história política local ao destronar o sistema dominante e ascender um novo
espectro de liderança em ‘Lajes do Cabugi’.
Ao meu ver,
Felipe não construiu sua vitória em apenas 45 dias de campanha. Ledo engano
para quem pensar assim. O start dessa jornada se dá por volta de 2015 quando
ainda era base do governo e foi preterido dentro do próprio ‘Benismo’ na Câmara
de vereadores. Em decisão corajosa rompe com o sistema governista e passa a trilhar
o caminho da oposição.
Bom orador e
antenado com o curso da história, fez valer o poder das redes sociais como
palanque. Usou com maestria as ferramentas que dispunha. Suas participações na tribuna da Câmara, ou
nas ruas denunciando os problemas da comunidade estavam em transmissões online
e falando diretamente com as pessoas. Neste momento Felipe Menezes começou a
ganhar o jogo, e o sistema dominante nem se dava conta.
De outro lado
o prefeito Marcão, tocava sua gestão sem maiores inovações com dezenas de obras
inacabadas, paralisadas ao longo dos anos. Algumas herdadas do ex-prefeito
Benes Leocádio, como o estádio municipal (10 anos) e a UPA. (mais de 10)
Marcão
administrava uma folha inchada, com uma casta de secretários, em parte obsoletos
(inúteis, cabides de emprego da velha política), e um governo sem uma marca
registrada para chamar de sua. Também pesa contra sua gestão, a falta de comunicação
eficaz. Politicamente falando, Marcão não se comunica bem, apesar de ser uma
pessoa de bom trato. (Deixo claro que minha análise é do ponto de vista
político-jornalístico).
O prefeito Marcão
ancorou-se na relação de confiança com o Deputado Federal Benes Leocádio com o
qual convive a mais de 30 anos à sua sombra, tendo sua vida pública subordinada
a estancia de poder do seu líder. Tornou-se um candidato inviável, pesado feito
chumbo, sem empatia com o eleitor. Jamais deveria ter ido para a disputa diante
de um oponente com tantas possibilidades como Felipe Menezes; um animal
político bastante perspicaz, apesar de jovem.
Por outro
lado, Benes Leocádio, animal político experiência, predador silencioso, desta
vez dormiu à sombra da zona de conforto sob os efeitos do sonífero da
autoconfiança. Cada vez mais ausente da cidade, cuidando de questões
parlamentares e longe do cidadão que vota. Benes não sabia mas já naquele
momento o sentimento dos lajenses era de insatisfação. Sentimento velado, diga-se de passagem.
Esse lapso
abriu um vácuo para o surgimento de uma nova liderança. Veio a campanha e o
“menino” botou o bloco na rua com um discurso forte que ganhou o coração do
eleitor. E assim como ocorreu em Mossoró com Alysson Bezerra e em Pau dos
Ferros com Mariana Almeida, as velhas gestões cansaram o povo, e o povo cansou
de velhas gestões. Ele (o povo) optou por mudança e pela renovação também em
Lajes.
O deputado
Benes Pagou o preço de perder a prefeitura que “era sua”. Podia perder todas
onde apoiava, mas não a de Lajes! Mas perdeu! Agora é correr atrás do prejuízo.
O fato
objetivo é que pela primeira vez desde 1988 surge um oponente com
características para fazer frente a Benes Leocádio daqui por diante na arena
política da ‘República das Lajes’. (Termo que criei).
O jovem
prefeito tem a preferência do eleitorado mais jovens com menos de 30 anos. E se apresenta como oponente viável, com
potencial para arrebatar o protagonismo político do município, outrora
conferido apenas ao atual Deputado Federal.
Benes Leocádio
sabe que não é mais ator isolado nessa cena. Vai ter que dividir o palco, assim
quis o povo. Como diria Belchior; “o que
há algum tempo era jovem e novo, hoje é antigo, precisamos todos rejuvenescer”.
Para concluir,
gostaria de lembrar que passada a euforia da vitória os desafios agora recaem
sobre as costas do novo prefeito eleito. Seu desafio é converter a expectativa do
povo em resultados práticos. A grande
prova estar por vir, e tenho convicção de que Felipe sabe a noção exata das
coisas. Quem não tiver, passe a ter! A esperança
da campanha se transmuta numa equação elevada sobre as projeções para o
mandato. A responsabilidade é grande, o
jogo é bruto e Felipe não pode errar. Ele sabe disso!
O município de
Lajes certamente passará nos próximos anos pelo seu melhor momento econômico
com o investimento das eólicas. Quis Deus que fosse na gestão do ‘menino’. Um bom prenuncio porque vai administrar com o
caixa cheio. Provavelmente se tocar uma gestão moderna, transparente com
serviços à população e obras estruturantes terá capital eleitoral ampliado em
2024.
No entanto,
temos que ressaltar; Engana-se quem na ressaca da vitória, pense que o deputado
Benes fechou seu ciclo em Lajes. De modo algum. Digamos que ele perdeu a
invencibilidade. Caiu por terra o mito do Benes imbatível. Todavia, vitórias e derrotas fazem parte do
xadrez político, um jogo que segue sendo jogado.
Com essas
variáveis caberá ao destino apontar os caminhos da próxima disputa municipal em
Lajes, e aqui eu faço uma conjectura; Daqui a dois anos, Benes Leocádio terá
uma luta para renovar o mandato de Deputado Federal. Se não lograr êxito,
fincará pé no município novamente para tentar retomar o palácio Alzira Soriano
em 2024. Prevejo um embate interessante.
A oportunidade de Benes Leocádio testar sua liderança de cinco vezes
gestor, contra Felipe Menezes, um jovem prefeito com potencial de crescimento
até lá.
“A função do jornalismo não é ser a favor ou contra, é fazer análise”
Tárcio Araujo, é lajense