BUENOS AIRES (Reuters) – Os argentinos, dolorosamente acostumados a décadas de preços em alta, dizem que a atual inflação anual de 102,5% atingiu uma categoria diferente que torna muito difícil chegar ao fim do mês.
“No meu caso, por exemplo, capacidade de poupança zero”, disse a funcionária de comércio Claudia Hernansaez à Reuters, em meio a uma crise exacerbada pela escassez de moeda internacional que mergulhou quase metade dos argentinos na pobreza.
“Temos um país que pode ser melhor, mas infelizmente eles nos administram muito mal, e nós sofremos com essas coisas. Mas é terrível, a inflação que se vive hoje na Argentina é terrível. Nunca vi”, acrescentou.
O governo deve anunciar a inflação de março na tarde de sexta-feira, que pode chegar a 7,1% – a maior em oito meses – segundo analistas ouvidos pela Reuters. Economistas consultados pelo banco central argentino preveem que a inflação anual chegará a 110% em 2023.
A situação tem afetado os salários e prejudicado a popularidade da coalizão governista de centro-esquerda, que enfrenta uma provável derrota nas eleições gerais marcadas para outubro.
O país, um dos maiores exportadores mundiais de grãos, também lida com uma das piores secas de sua história, que destruiu a safra de soja, milho e trigo, com perdas de dezenas de bilhões de dólares para sua economia.
Agora, cada ida ao supermercado é uma lembrança da crise inflacionária, a pior desde 1991, quando a Argentina saía de um período de hiperinflação. O aposentado Juan Tártara disse que os preços aumentam a cada visita semanal ao mercado.
“As coisas vão aumentando semanalmente, numa proporção às vezes em alimentação de 10 ou 15%”, afirmou.